Abuso sexual de homens

Não é fácil definir o que é abuso ou violência sexual

Muitas pessoas pensam erradamente que só a violação ou atos penetrativos constituem violência sexual, quando na verdade existem várias outras formas de abuso sexual. Por exemplo, a violência sexual pode ocorrer sem contacto físico, e não é isso que a torna menos grave ou danosa para a vítima.

Por ser uma experiência potencialmente traumática, todas as formas de abuso sexual podem gerar consequências graves. É importante ter presente que o impacto de um evento traumático é diferente de pessoa para pessoa.

Neste sentido, não comparamos casos de abuso nem hierarquizamos experiências de violência sexual. Estas comparações promovem a desvalorização de determinadas formas de abuso e reforçam a ideia errada de que só é abuso sexual quando o abusador é violento ou se se verificam lesões físicas e atos consumados.

Independentemente do que lhe aconteceu, queremos que saiba que a culpa não foi sua. Não está sozinho e merece ter apoio para ultrapassar o impacto que o abuso teve na sua vida.

Aspectos para ter em atenção

Quando falamos de abuso sexual de homens e rapazes, é importante ter em mente que:

  • Um em cada seis homens é vítima de abuso sexual antes dos 18 anos.
  • Apenas 16% dos homens reconhece ter sido vítima de violência sexual.
  • A percentagem dos casos denunciados é de apenas 3,9%.
  • Pode acontecer na infância, na adolescência ou na vida adulta.
  • Na grande maioria dos casos, o abusador conhece a vítima e mantém uma relação próxima. Muitas vezes são da própria família. No entanto, também há casos em que o abusador é um desconhecido ou estranho.
  • O abuso sexual pode acontecer uma única vez ou durante um período de tempo indeterminado. Há casos que duram cinco minutos, outros duram vários anos.
  • Há rapazes e homens que são abusados sexualmente durante anos e por diferentes abusadores e abusadoras.
  • O abuso sexual de homens e rapazes passa despercebido e nem sempre é visto como crime.
  • A maioria dos abusadores são homens, mas também há mulheres abusadoras.
  • Em média, um homem abusado na infância demora mais de 20 anos a partilhar a sua história e a procurar apoio.
  • O abuso sexual afeta homens heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais ou assexuais.
  • A culpa e a responsabilidade é sempre do abusador, nunca da vítima.
  • A violência sexual contra homens e rapazes acontece independentemente da crença religiosa, etnia, cultura, escolaridade, situação económica, idade, sexo, género, classe social, origem, profissão ou orientação sexual, quer do homem sobrevivente, quer do abusador ou abusadora.

Consequências do abuso

Por ser uma experiência potencialmente traumática, o abuso sexual pode ter consequências devastadoras na vida dos homens e rapazes vitimados.

No entanto, muitas vezes as próprias vítimas não se apercebem desse impacto e acabam por integrar essas consequências como parte da sua personalidade. Por exemplo, é comum que os homens sobreviventes de violência sexual refiram que sempre apresentaram dificuldades em confiar nos outros e por isso, não conseguem estabelecer relações intímas e de confiança, originando um maior isolamento nas suas vidas.

A violência sexual também pode ter um forte impacto na autoestima e assertividade dos sobreviventes.

Muitos sentem que são incapazes de dizer que «não» em diversas situações do seu dia-a-dia que os incomoda ou que gera sofrimento. Acreditam que isso pode afetar negativamente a forma como as pessoas se relacionam com eles, levando até à ruptura da relação.

Estes homens acabam por ter uma preocupação excessiva com a opinião dos outros, mesmo que não o demonstrem, o que os leva muitas vezes a anular-se nas relações que estabelecem. Muitos indicam experienciar sentimentos de autodesvalorização e de insegurança. São incapazes de receber elogios, mas prendem-se às críticas negativas, como se fizessem parte de si.

A ansiedade é outra consequência muito apontada.

Muitos homens sentem que os níveis de ansiedade são extremamente altos, nomeadamente em pequenas situações do quotidiano, que podem ter um impacto colossal. Por exemplo, um colega de trabalho que diz “Amanhã preciso de conversar contigo”, pode ser o suficiente para muitos homens ficarem quase obcecados sobre o que motivou a necessidade de ter essa conversa, questionarem o que fizeram de errado e idear inúmeras consequências negativas que poderão vir dessa conversa. Assim, também é comum que os homens tenham pensamentos ruminativos sobre estas e outras situações do seu dia a dia.

Muitos homens apresentam muita dificuldade em relaxar, acabando por estar constantemente hipervigilantes, em estado de alerta, gerando altos níveis de ansiedade, cansaço, dificuldades no sono e concentração.

O abuso sexual pode também ter impacto na forma como os homens sobreviventes vivem a sua vida íntima e a sua sexualidade. Muitos homens podem apresentar comportamentos hipersexualizados, como por exemplo, masturbação e recurso à pornografia de forma exacerbada e comportamentos sexuais de risco.

Por outro lado, também há sobreviventes que evitam qualquer tipo de contacto físico e íntimo. Estes comportamentos de evitamento geram dificuldades nas relações de intimidade e interferem no modo como o sobrevivente perceciona e vive a sua sexualidade. O importante é ter consciência de que o abuso sexual pode afetar a forma como os homens vivem a sua sexualidade.

O abuso sexual pode afetar a vida das vítimas de diversas formas. Se se identificar com estes exemplos, contacte-nos. No entanto, é importante clarificar que mesmo que não tenha experienciado nenhuma destas consequências, isso não significa que foi menos vítima ou que a sua história de abuso foi menos impactante.

 

Fale connosco e agende uma Sessão de Esclarecimento através do Linha de Apoio: ​910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt.

Vida dupla?

Quando falam sobre as consequências do abuso sexual, é comum os homens sobreviventes referirem a sensação de viver uma vida dupla pautada por duas realidades distintas: a realidade que as outras pessoas vêem e a realidade interna. Ou seja, aquilo que as pessoas vêem pode ser um homem bem disposto, sociável, disponível, afável, criativo, assertivo, calmo e seguro, entre outras características.

No entanto, internamente a sua realidade é outra. O homem poderá experienciar sentimentos de isolamento, solidão, medo, vergonha, culpa, nojo, raiva, ansiedade, hipervigilância, flashbacks do abuso, instabilidade emocional, baixa auto-estima e assertividade, entre outras.

Mitos e ideias erradas sobre a violência sexual contra homens e rapazes

O abuso sexual de homens e rapazes está minado por vários mitos e ideias erradas.

A crença de que “os homens não podem ser abusados sexualmente” é um dos maiores mitos relativos à violência sexual contra homens e rapazes. Apesar de errada, esta ideia contribui para que os homens vitimados permaneçam isolados, a sofrer em silêncio e sem procurar a ajuda que necessitam.

O facto de um homem ou rapaz ter sido vítima de abuso sexual não se reflete na sua masculinidade. Ou seja, não é menos homem ou menos capaz por ter sido vítima. No entanto, este é um mito bastante enraizado devido à forma como a sociedade reconhece e valoriza determinados atributos associados à masculinidade tradicional.

Ainda é esperado que os homens não chorem, não apresentem as suas emoções ou sentimentos, que não procurem ajuda, que resolvam os seus problemas sozinhos e que não podem ser vítimas. Estas ideias estão erradas e contribuem para aumentar o sofrimentos dos homens que foram vítimas de abuso sexual e constituem um obstáculo à procura de apoio.

Estes mitos são ideias e preconceitos partilhados pela sociedade em geral e que afectam a percepção de como lidar com estas questões. Se desejar, pode ler a nossa lista de mitos sobre violência sexual contra homens e rapazes.

Terei sido abusado?

Muitos homens sobreviventes questionam-se se terão sido vítimas de abuso sexual.

É natural que tenham essa dúvida uma vez que não se fala sobre violência sexual contra homens. Assim, muitas vezes os próprios homens não compreendem ao certo se a sua história se enquadrada como violência sexual.

Por haver um grande foco na violação e nos atos penetrativos, muitos homens cujo abuso teve outras características sentem que a sua experiência não foi de violência sexual e por isso não se identificam como vítimas e não procuram apoio.

Se tiver dúvidas sobre a sua história de abuso, queremos que saiba que é natural ter questões.

Fale connosco e agende uma Sessão de Esclarecimento, que é gratuita e confidencial, para poder clarificar aspectos ou dúvidas que tenha. Pode agendar através do email apoio@quebrarosilencio.pt ou da Linha de Apoio: 910 846 589.

Perfil dos homens vitimados

Não existe um perfil dos homens sobreviventes.

Podem ser homens solteiros, casados ou divorciados. Podem ter o nono ano de escolaridade, licenciatura ou doutoramento. Podem ser engenheiros, calceteiros, professores, diretores de empresas, donos do seu próprio negócio ou estar em situação de desemprego.

O importante é ter em mente que qualquer homem e rapaz pode ser vítima de violência sexual e em qualquer fase da sua vida.