Para muitos sobreviventes é difícil confiar nos outros e por isso mantêm-se à distância, mesmo que essa distância possa ser mais emocional do que física. Muitos dos homens que foram abusados sexualmente desejam ter relações saudáveis e profundas com outras pessoas. No entanto, devido ao abuso sexual, essas mesmas relações podem representar um risco, um perigo e, por essa razão, sentem que há um distanciamento entre eles e os outros.
Assim, o isolamento é uma realidade para muitos homens sobreviventes de violência sexual, mesmo que para as outras pessoas esse isolamento não seja imediatamente perceptível. Ou seja, para as outras pessoas, os sobreviventes podem parecer pessoas disponíveis, sociáveis, no entanto, internamente não se entregam como gostariam de fazer. Neste sentido, pode acontecer um homem não se dar tanto às outras pessoas, mas continuar a ter uma vida social. Na realidade, muitos dos sobreviventes podem ter uma rede social variada, mas acabam por manter um certo distanciamento e construir relações de amizade superficiais. Viver à margem das relações permite alcançar uma falsa sensação de proteção e segurança, ao mesmo tempo que pode gerar mal-estar.
Há vários fatores que contribuem para o isolamento. Por exemplo, nos casos de abuso sexual de crianças em que o abusador se apresenta como a única pessoa em quem a criança pode confiar, poderá ser difícil para ela voltar a confiar noutra pessoa, pois a referência que tem é a do abuso. Confiar significa estar vulnerável, o que permite uma exposição à possibilidade de a outra pessoa poder exercer violência sobre si. Assim, é natural que a criança (e posteriormente enquanto pessoa adulta) suspeite da aproximação de outras pessoas e desconfie das suas intenções. Uma pessoa que se aproxime de uma vítima de abuso sexual pode fazer com que ela sinta várias emoções associadas ao abuso e, por isso, se distancie para se salvaguardar e proteger.
Quando a criança não tem modelos saudáveis de relacionamentos, nomeadamente relações sem violência ou abuso sexual, estabelecer relações com outros pode ser visto como um risco. O isolamento cria uma sensação de segurança, mesmo que seja falaciosa. O que inicialmente é uma estratégia de sobrevivência da criança para gerir e protegê-la do abuso, pode a longo prazo começar a ter efeitos negativos. Ou seja, quando o isolamento começa a ser integrado como uma forma de estar, contribui para afastar as outras pessoas, impedindo o sobrevivente de desenvolver relações significativas.
A dicotomia entre querer ter relações profundas e com significado e o receio de ser magoado, é a realidade para muitos homens que foram vítimas de abuso sexual. Se experiencia esta ambivalência, dificuldades em estabelecer relações profundas ou saudáveis, se se sente isolado, contacte-nos: 910 846 589 ou apoio@quebrarosilencio.pt