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6 de Novembro de 2023

As mulheres também abusam sexualmente de homens?

Quando falamos de violência sexual contra homens e rapazes é comum perguntarem-nos se as mulheres são capazes de abusar sexualmente de homens e rapazes, e a resposta é sim. Sabemos que as mulheres abusam sexualmente de meninos e homens, e também de meninas e de outras mulheres. No entanto, é preciso clarificar que na maioria dos casos de abuso sexual os perpetradores são homens, independentemente do sexo da vítima. No Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2022, nos crimes de abuso sexual de crianças, 93,5% dos arguidos eram do sexo masculino e 6,5% eram do sexo feminino. Nos crimes de violação contra pessoas adultas, 97,7% dos arguidos eram homens e apenas 2,3% eram mulheres. Independentemente das estatísticas e percentagens, para a Quebrar o Silêncio, o importante é que nenhuma vítima seja excluída, independentemente do sexo de quem abusa.

 

Crimes invisibilizados 

Importa referir que os casos de abusos sexuais perpetrados por mulheres são vistos de forma diferente da dos homens e são influenciados pelos estereótipos de género. A visão tradicional da mulher maternal e cuidadora, contribui para a ideia de que as mulheres não sejam vistas como abusadoras. Por outro lado, a visão tradicional do homem que está sempre disponível para ter relações sexuais e que é incapaz de dizer “não” aos avanços de uma mulher, contribui para invisibilizar os casos quando um rapaz é vítima de violência sexual por uma mulher. Nestas circunstâncias, o menino ou rapaz vitimado pode ser visto como “sortudo” e não como vítima, e o abuso como uma forma de iniciação sexual e não como uma agressão.

Outro exemplo desta diferenciação de género está patente na forma como as notícias descrevem este tipo de crime. No contexto escolar, se um professor abusa sexualmente de uma aluna, o docente é adjetivado de abusador, pedófilo, pederasta, molestador ou violador, que “abusou”, “molestou” ou “violou” a vítima. Quando se trata de uma mulher, a abusadora é, frequentemente, referida apenas como professora ou docente, e o abuso é descrito como se fosse um relacionamento entre iguais, sendo comum ler-se “envolveu-se com o aluno”, “teve relações com o jovem”, “mantinha uma relação com aluno”, “fez sexo”.

 

Quando os homens são forçados a penetrar

Quando se fala em violação talvez a primeira imagem que surge não seja a de um homem ou rapaz que é forçado a penetrar. No entanto, é necessário reconhecer que ser “forçado a penetrar” também é uma forma de violência sexual. Nestes casos, existe a crença de que as mulheres são mais fracas e, por essa razão, ser forçado a penetrar não é de todo possível, ou o mito de que os homens estão sempre disponíveis para sexo e que cada oportunidade para ter sexo com uma mulher é uma “benção”, estão na génese da invisibilização desta forma de violação, até entre as próprias vítimas.

 

[Leia mais sobre “Quando os homens são forçados a penetrar” através deste LINK]

 

O facto de quem abusa ser uma mulher não implica que a experiência seja menos traumática para o homem ou para o rapaz, nem faz com que os homens e rapazes possam ser considerados “sortudos”. Continua a ser crime e violência sexual.

Acreditar que é impossível para uma mulher abusar sexualmente de um homem é alimentar uma ideia errada que dificulta a possibilidade de os homens e rapazes reconhecerem que experienciaram uma situação de violência sexual. Este mito contribui, ainda, para que os próprios homens sobreviventes não reconheçam o abuso como crime, que seus casos sejam mal diagnosticados ou que passem despercebidos.

Se foi vítima de abuso sexual por parte de uma mulher saiba que não está sozinho e que pode contar connosco. 

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