É comum que o sobrevivente de violência sexual seja assolado por emoções negativas que levam à própria auto-desvalorização e inclusive que se maltrate de formas que nem sempre são óbvias.
Quando falamos de abuso, sabemos que estes sentimentos são muitas vezes motivados pela proximidade do abusador e pelos seus processos de manipulação. Se um amigo ou familiar, que deveria cuidar e preocupar-se com o seu bem-estar, não foi capaz de fazê-lo e pelo contrário, acabou por magoá-lo, é natural que estes homens cresçam a acreditar que não merecem ser tratados de outra maneira. Este fator tem também um grande impacto na maneira como o homem sobrevivente vai olhar para si e para a situação de abuso, gerando emoções negativas como culpa e vergonha, que reforçam os comportamentos de auto-desvalorização e mau trato.
Adiar ou evitar a ida ao médico, mesmo quando sabe que necessita, desinvestir dos cuidados de higiene e da sua apresentação, inibir-se de ter acesso a promoções ou progresso no trabalho, são alguns exemplos de auto-desvalorização e até de comportamentos destrutivos. Devido ao abuso, os homens sobreviventes podem interiorizar a crença de que não são merecedores de coisas boas, fazendo com que se afastem delas, o que por sua vez, acaba por reforçar a ideia de que realmente não as merecem.
Ao iniciar um processo de recuperação, é essencial que o homem sobrevivente reconheça que não teve culpa do que aconteceu e que não há razão para sentir vergonha. Motivá-lo a aceitar que é tão merecedor de coisas boas como qualquer outro, e de que a violência sexual de que foi vítima não o define enquanto pessoa, são passos importantes no seu processo de recuperação e autoinvestimento.
Lembre-se que não está sozinho e que muitos homens o acompanham neste percurso.
Se tem dúvidas ou se se identifica neste texto enquanto vítima de violência sexual, contacte-nos através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt