Perante um evento traumático como a violência sexual, o cérebro recorre a mecanismos de proteção automáticos e inconscientes com o objetivo de proteger a vítima. Estes mecanismos surgem como uma tentativa de mitigar o sofrimento causado pelo trauma. Um destes mecanismos é a dissociação que permite ao sobrevivente desconectar-se da realidade, como se o sobrevivente “não estivesse presente no momento”, protegendo-o do trauma.
Ver também:
- Quando as vítimas têm dificuldade em gerir emoções.
- Trauma e abuso sexual: quando o corpo se desliga do momento.
Em que circunstâncias pode ocorrer a dissociação?
Existem três circunstâncias em que a dissociação pode ocorrer:
- O sobrevivente pode dissociar durante o evento traumático, nomeadamente quando o abuso ocorre, independentemente de ser uma situação pontual ou um crime continuado.
- Após o abuso podem acontecer episódios dissociativos quando experiencia flashbacks do abuso. Ou seja, perante uma memória relacionada com o abuso o sobrevivente revive a situação traumática como se esta estivesse a ocorrer novamente.
- Ao longo da vida do sobrevivente a dissociação também pode surgir enquanto mecanismo de sobrevivência, pois desconecta-se de situações percecionadas como perigosas, ameaçadoras e nas quais se sente em risco.
Quais os sinais que indicam que alguém está a dissociar?
Os sinais de dissociação são diversos e podem surgir com diferentes intensidades. O sobrevivente pode sentir-se entorpecido, com a sensação de estar a sonhar acordado, estonteado, nauseado, sem controlo ou desorientado. Habitualmente, o sobrevivente pode não conseguir fazer a distinção entre o passado e o presente, o que leva a experienciar um sentimento constante de insegurança e estado de alerta. É comum que o sobrevivente tenha falhas ou perdas de memória, tal como, sensação de perda de noção do tempo. Alguns sobreviventes dizem sentir que faltam “pedaços de tempo”, por vezes segundos ou minutos, em alguns casos horas ou até dias.
A dissociação pode ser visível para aqueles que convivem com o sobrevivente. Por exemplo, a respiração torna-se mais superficial, há uma diminuição da atenção, em que a pessoa se torna menos responsiva e parece não estar presente, mudanças repentinas no movimento ocular (por exemplo, perda de foco, “olhos de vidro” ou pupilas mais dilatadas). Também ao nível da comunicação, podem ser identificados sinais como interrupção repentina do discurso, congelar, deixar de ouvir ou flutuações no tom de voz.
Se identifica episódios em que dissocia e/ou se identifica com este texto, contacte-nos através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt. Estamos disponíveis para o receber.