Muitos homens que foram abusados sexualmente têm pensamentos ruminativos. Após a vivência de um evento traumático é comum o aumento da ansiedade e hipervigilância. O estado de alerta permanente dá lugar a estes pensamentos que com o tempo se podem tornar obsessivos. Por surgirem a qualquer momento, serem intrusivos e constantes, são geralmente muito disruptivos.
Os pensamentos ruminativos podem estar relacionados não só com os abusos, mas também com situações do quotidiano. Por vezes, giram em torno de algo que já aconteceu, por exemplo rever vezes sem conta um encontro social ou uma reunião de trabalho, analisando repetidamente a forma como se comportou ou o que os outros podem ter ficado a pensar sobre si. Noutras situações, como quando alguém passa à sua frente na fila do supermercado ou um colega de trabalho faz um comentário pejorativo, o sobrevivente pode personalizar e sentir que este foi dirigido a si, alimentando assim um ciclo de pensamentos autodepreciativos. Noutras ocasiões os pensamentos ruminativos, consistem em infindáveis cenários de algo que pode vir a acontecer, por exemplo, antecipar um encontro romântico ou uma reunião com o chefe. Habitualmente, são pensamentos extremamente negativos, com consequências catastróficas e que levam o sobrevivente a esperar o pior e a sofrer por algo que nunca aconteceu e que é muito pouco provável que venha a concretizar-se.
Este ciclo que parece não ter fim aumenta a ansiedade, gera sofrimento e pode causar perturbações de sono, dificuldades de concentração ou até impedir que o sobrevivente se sinta bem e seja capaz de relaxar. Este pode sentir-se dominado pelos seus pensamentos e até ter receio de pensar devido à intensidade do que surge na sua mente. Também o modo como o sobrevivente de abuso sexual se vai comportar com os outros pode ser fortemente influenciado. Ao ser constantemente invadido por pensamentos obsessivos, pode sentir dificuldade em se focar nas conversas, tal como medo de não conseguir lidar com situações imprevisíveis, de paralisar ou entrar em pânico. O receio de que os outros percebam o que está a acontecer leva muitas vezes a um excessivo autofoco, o que pode gerar um sentimento de desadequação e fazer com que o sobrevivente não consiga desfrutar da companhia dos outros e, por isso, prefira estar sozinho ou mais isolado.
No decorrer do processo terapêutico, o sobrevivente tem a oportunidade de investir em novas estratégias para gerir a sua ansiedade, tal como de aprender a identificar, interromper e gerir os pensamentos ruminativos.
Neste sentido, ao saber o que fazer quando os pensamentos surgem e ao gerir as emoções que os mesmos desencadeiam, poderá sentir-se menos ansioso, melhor consigo mesmo e mais capaz de enfrentar situações do dia-a-dia, quer no trabalho quer na sua vida pessoal.
Se está a viver uma situação semelhante e sente que os pensamentos ruminativos estão a desestabilizar a sua vida contacte-nos através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt, estamos disponíveis para o receber.