É comum que um homem que foi vítima de violência sexual se questione se consentiu o abuso. É natural que se reflita sobre o porquê de não ter dito que não, de não ter conseguido impedir o abuso ou mesmo de não ter conseguido fugir. São questões que estão ancoradas em sentimentos de culpa e que alimentam, não só essa culpa, como sentimentos de vergonha e que podem tornar-se extremamente disruptivos.
Antes de avançar, importa esclarecer que numa situação de abuso a responsabilidade é exclusivamente do abusador e nunca da vítima.
No apoio psicológico que prestamos é comum ouvirmos sobreviventes que dizem “eu não evitei”, “eu não disse que não” ou “eu não fiz nada para parar”, certos de que consentiram o abuso que sofreram. No entanto, são diversas as razões para não existir uma negação clara ou um afastamento do abusador por parte da vítima e nenhuma delas deve ser lida como consentimento.
Um homem pode não reagir de forma expressiva ao abuso, como evitando-o, fugindo ou até denunciando-o, por se sentir inseguro e ter dificuldade em ser assertivo. Este fator pode até ser explorado pelos abusadores para aumentar a garantia de silêncio e sensação de envolvimento da vítima.
Outro motivo para a paralisação da vítima perante o abuso é a perceção de perigo. Quando somos confrontados com uma situação assustadora ou que não conseguimos compreender, é natural termos medo, ficarmos sem reação e paralisarmos, o que não é mais que uma resposta automática do nosso cérebro à presença de uma ameaça.
Embora muitas vezes haja dificuldade em compreender estes comportamentos e reconhecê-los como respostas naturais a situações de abuso, nenhum deles deve ser interpretado como consentimento ou validação do abuso.
Queremos esclarecer que a não reação é uma resposta natural e que não deve ser confundida com um envolvimento intencional e desejado. Nunca é demais repetir que a responsabilidade é unicamente de quem abusa.
Se tem dúvidas ou se se identifica neste texto enquanto vítima de violência sexual, contacte-nos através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt