Muitos homens sobreviventes de violência sexual referem ter uma perceção bastante negativa de si próprios e uma baixa autoestima. Embora esta seja uma consequência comum do abuso sexual, o modo como se apresenta pode ser diferente para cada vítima. Em alguns casos é evidente para as pessoas que rodeiam o sobrevivente, noutros casos, o homem pode ser visto pelos seus familiares, amigos e colegas, como alguém confiante, assertivo, seguro de si mesmo. No entanto, internamente não é esta a realidade.
Quando uma pessoa é vítima de violência sexual na infância ou na vida adulta, passa por uma experiência traumática que pode abalar a forma como se relaciona com os outros e consigo próprio. Imagine uma criança que é abusada sexualmente por um familiar que deveria amá-la, protegê-la e cuidar dela. Como consequência a criança pode questionar, mesmo que inconscientemente, “se alguém que deveria amar-me e proteger-me me fez algo tão mal, é porque eu não sou boa e não mereço nada de bom”. Esta questão não tem de ser formulada conscientemente e desta forma, mas pode ser interiorizada pela criança e influenciar negativamente o seu desenvolvimento, tal como, a imagem que constrói de si mesma. O mesmo acontece com as pessoas adultas que são vítimas de violência sexual e que podem fazer esse mesmo questionamento.
Para além disso, os sentimentos de culpa, a vergonha, a raiva e o nojo resultantes da vivência de uma ou mais situações de violência sexual, podem contribuir para reforçar crenças negativas sobre si e sentimentos de auto desvalorização.
Devido à baixa autoestima, insegurança, receio da exposição e medo de ser abandonado, o sobrevivente pode sentir dificuldade em ser assertivo, ou seja, em “dizer que não”, tomar decisões, fazer escolhas, dar a sua opinião ou discordar de outras pessoas. Muitos homens que procuram a Quebrar o Silêncio partilham que são incapazes de dizer que “não” aos outros, não só na sua vida pessoal com familiares e amigos, como também, no contexto profissional. Por exemplo, quando alguém lhes pede um favor ou para fazer algo com o qual não se sentem confortáveis, muitos acabam por dizer que “sim”, pois têm receio das consequências se disserem que “não”. Esta incapacidade pode levar o sobrevivente a envolver-se em relações onde se vê anulado e nas quais não consegue colocar limites, não conseguir colocar limites, o que gera mal estar, desconforto e sofrimento, podendo ainda contribuir para o envolvimento em relacionamentos tóxicos e abusivos.
Quando os sobreviventes têm uma baixa autoestima é igualmente comum que apresentem dificuldade em cuidar e investir em si próprios. Assim, apesar de não ser tão evidente, alguns homens podem desinvestir de si ou negligenciar o seu bem estar físico, mental e emocional. (exemplo: deixar de ir a consultas médicas ou manter um comportamento que sabem que os prejudica). Em alguns casos esta ausência de autocuidado pode ser uma forma de o sobrevivente se punir e castigar por sentir que não é merecedor de coisas boas.
Estas são algumas das questões que são trabalhadas no apoio psicológico da Quebrar o Silêncio. Durante o processo cada homem terá oportunidade de compreender as diversas consequências que o abuso teve na sua vida para depois ultrapassá-las. Assim, à medida que os sentimentos de culpa, raiva e vergonha são geridos, é comum que muitos homens comecem a investir em si e no seu bem-estar. A recuperação e aumento da autoestima pode potenciar inúmeras mudanças na vida de cada sobrevivente e ter diversas formas. Por vezes, há sobreviventes que compreendem a importância do autocuidado, passando por exemplo a reservar mais tempo para si, a praticar desporto ou a agendar uma consulta médica que adiam há muito. Outros tomam a decisão de terminar relações tóxicas ou de procurar novas oportunidades profissionais
Se identifica alguma destas consequências ou tem outras questões relacionadas com o impacto que o abuso sexual teve na sua vida, contacte-nos: 910 846 589 ou apoio@quebrarosilencio.pt