Mitos

Mitos sobre abuso sexual

OS MITOS SÃO PRECONCEITOS E IDEIAS ERRADAS

Os mitos sobre violência sexual são preconceitos e ideias erradas sobre as vítimas e os seus agressores, dificultando o sucesso do processo terapêutico.

OS MITOS AFECTAM AS VÍTIMAS E SOBREVIVENTES DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Muitas vezes, os homens sobreviventes de violência sexual carregam consigo ideias erradas que dificultam o seu processo de cura. No entanto, estes mitos não são exclusivos das vítimas e sobreviventes de violência sexual: são ideias e preconceitos partilhados pela sociedade em geral e que afectam a percepção de como lidar com estas questões.

EXISTEM VÁRIOS MITOS SOBRE O VIOLÊNCIA SEXUAL

Abaixo, apresentamos alguns mitos sobre violência sexual.

Antes de continuar, queremos informá-lo de que esta lista de mitos pode conter informações desencadeadoras de sentimentos ou pensamentos intensos. Se se sentir desconfortável, volte quando se sentir preparado ou, se preferir, entre em contacto connosco para podermos apoiá-lo.

Qualquer homem pode ser vítima de violência sexual, independentemente da crença religiosa, etnia, cultura, escolaridade, situação económica, idade, classe social, origem, profissão ou orientação sexual.

Estatisticamente, 1 em cada 6 homens é vítima de alguma forma de violência sexual antes dos 18 anos. Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna de 2016, 18,7% das vítimas menores de idade eram rapazes.

No entanto, acreditamos que estes números não representam a realidade, uma vez que apenas 16% dos homens considera que foi vítima de violência sexual e nem todos os casos são reportados ou denunciados. Há estudos que demonstram que a percentagem de homens que participa o seu caso é de apenas 3,9%.

Se pretender mais informações sobre violência sexual contra homens e rapazes, contacte-nos através do e-mail info@quebrarosilencio.pt.

A ideia de que os crimes de abuso sexual são praticados por desconhecidos é errada. Cerca de 90% dos casos os abusadores são conhecidos da criança, e a maioria dos abusos são praticados por familiares (incesto).

Segundo o inquérito Focus on Survivors, 70% das vítimas de violência sexual referiu que o abuso foi praticado por um familiar ou por alguém próximo da família.

Este é outro mito que, além de errado, desvia a atenção do que é mais importante numa situação traumática de abuso sexual: o processo de recuperação do trauma do sobrevivente.

Se um rapaz for abusado por um homem, significa que passou por uma experiência traumática de violência sexual. O foco deverá ser o bem-estar do sobrevivente e o seu processo de recuperação, não a orientação sexual.

O foco na orientação sexual do abusador ou da vítima / sobrevivente prejudica o processo de recuperação e alimenta a confusão e o mal-estar sentidos pelo sobrevivente de violência sexual.

As raparigas e as mulheres também podem ser abusar sexualmente de homens e rapazes. Ainda que as estatísticas indiquem que a maioria dos abusadores são homens, há casos onde o abusador do crime de abuso sexual é uma mulher.

O facto de o abusador sexual ser uma mulher não implica que a experiência seja menos traumática para o homem ou para o rapaz, nem faz com que os homens e rapazes possam ser considerados “sortudos”.

Acreditar que é impossível para uma mulher abusar sexualmente de um homem é alimentar uma ideia errada que complica a possibilidade dos homens e rapazes reconhecerem que experienciaram uma situação de violência sexual. Este mito contribui, ainda, para que os próprios homens sobreviventes não reconheçam o abuso como crime, que seus casos sejam mal diagnosticados ou que passem despercebidos.

Ter uma ereção ou ejacular durante o abuso é uma questão central nos homens e rapazes que foram abusados sexualmente e representa, para muitos, uma fonte de sentimentos de culpa e de vergonha intensa. É por isso fundamental compreender que ter tido ereção ou ejaculação durante o abuso não significa que o rapaz ou homem tenha procurado ser sexualmente abusado, nem dado qualquer tipo de consentimento.

É importante reconhecer que há ereções espontâneas, ereções motivadas por momentos de stress, ansiedade ou medo. No entanto, é fundamental reconhecer também que mesmo que a ereção seja uma reação ao toque ou estímulo, tal não valida o abuso sexual. Muitos sobreviventes homens são afetados porque isto lhes aconteceu durante o abuso. São experiências traumáticas que se tornam obstáculos para a gestão e interpretação correta do abuso.

Um rapaz ou homem sobreviventes de violência sexual não deixa de o ser porque teve uma ereção ou ejaculou durante o abuso. O único responsável continua a ser o abusador ou abusadora.

Este é um dos medos que assombra muitos homens sobreviventes de violência sexual, referido por vezes como “síndrome do vampiro”. No entanto, a ideia de que um rapaz vítima de violência sexual irá reproduzir comportamentos de abuso é errada.

Na realidade, há abusadores (cerca de 30%) que também foram vítimas de abuso no passado, mas, interpretar que 30% das vítimas serão abusadores é uma relação de ideias errada.

Acreditar neste mito pode contribuir para que um rapaz ou homem não procure apoio ou partilhe com alguém o que lhe aconteceu, devido ao medo de ser julgado como um criminoso ou como alguém que poderá abusar sexualmente de uma criança ou adulto.

É comum nos casos de violência sexual o abusador conquistar a atenção e amizade da criança recorrendo a diversas estratégias. Uma delas pode ser através da oferta de presentes, dinheiro ou outros bens.
O facto de a criança receber ofertas não significa que foi de alguma forma conivente ou co-responsável pelo abuso. Estes eventos fazem parte das estratégias de manipulação e controlo do abusador, que exploram as necessidades e vulnerabilidades da criança, de modo a seduzi-la.

No entanto, este sentimento de auto-culpabilização é comum em vários homens vítimas / sobreviventes de violência sexual. É comum acreditarem em ideias como “Se eu aceitei é porque eu queria”.
Reforçamos que a responsabilidade é sempre do abusador, nunca da criança ou da vítima.

É comum que uma criança que tenha sido vítima de violência sexual seja vítima de vários casos de abuso ao longo da sua vida, por diferentes abusadores ou abusadoras. Muitas vezes, são crianças que crescem com carências afetivas e de atenção, sendo estas vulnerabilidades exploradas por diferentes abusadores.
Quando um homem passa por diferentes abusos, pode interiorizar e acreditar que o “problema é seu”, como se fosse ele quem atraísse os abusadores. Esta crença contribui para que este homens sintam que não podem procurar apoio. É importante reforçar que não há nada de errado com estes homens e que a responsabilidade do abuso é de quem abusa, nunca da vítima.

Qualquer comportamento ou contacto sexual praticado por um adulto a uma criança é crime de abuso sexual. Mesmo que um rapaz menor se exponha a um adulto e peça contacto sexual, o adulto é o responsável pelo controlo dessa situação e o único responsável. Nenhuma criança procura ou pede para ser explorado ou abusado sexualmente.

Muitas vezes, os abusadores usam a própria curiosidade e interesse dos rapazes e crianças, afirmando que essa curiosidade ou interesse sexual demonstra que os rapazes e crianças queriam e desejavam o contacto sexual e, por isso, estavam a consentir o acto.

Há também situações em que os abusadores controlam e manipulam de tal modo a situação de abuso (especialmente nos casos de abuso continuado), que há rapazes que começam a sentir e acreditar que querem não só a atenção desses adultos como desejam o contacto sexual, ignorando que se trata de violência sexual e não sexo.

Em qualquer dos casos, é sempre o adulto o único responsável pelo abuso sexual, pela manipulação do rapaz, pela traição da sua confiança e por explorar as suas necessidades e carências afetivas para seu prazer sexual.

Violência sexual não é sexo, é crime. Ser praticado por uma mulher ou rapariga não muda a realidade nem o trauma consequente da violência sexual.

Em alguns casos, quando o abuso é cometido por uma mulher o caso deixa de ser visto como abuso, havendo situações onde o próprio abuso é desvalorizado e passa a ser referido como uma relação de uma mulher mais velha com um rapaz.

Acreditar que um rapaz ou homem é “sortudo” porque uma mulher ou rapariga abusou sexualmente dele, é desacreditar e desvitalizar a experiência traumática que sofreu. Isto deve-se em parte à forma como a sociedade vê a masculinidade tradicional e as expectativas sociais do homem. No entanto, violência sexual é uma experiência traumática, independentemente do género de quem o comete.

A masculinidade ou virilidade de um homem ou rapaz não estão relacionadas com o facto de ter sido abusado sexualmente. A ideia de que um homem ou rapaz vítima / sobrevivente de violência sexual é menos masculino ou menos capaz do que os outros homens está errada.

Este é um mito também relacionado com a forma como a sociedade vê os atributos tradicionais associados à masculinidade. E muitas vezes esta ideia errada passa a ser carregada pelas vítimas e sobreviventes de violência sexual, afectando a sua auto-estima e interferindo com a possibilidade de procurar apoio.

A orientação sexual do abusador não é vinculativa ou determinante no abuso. Também não há indícios de que um homem homossexual seja mais propício a cometer abuso sexual do que um homem heterossexual.

Há estudos que sugerem que os homens que abusam sexualmente de rapazes identificam-se, na sua maioria, como heterossexuais. E há indicadores de que, na altura em que cometeram o abuso, os abusadores estavam numa relação adulta heterossexual.

Violência sexual podem acontecer em qualquer lugar, sendo que muitos acontecem dentro da própria família (incesto). Também não há indícios de que os abusadores sejam predominantemente homossexuais.

Os casos de violência sexual acontecem independentemente da crença religiosa, etnia, cultura, escolaridade, situação económica, idade, classe social, origem, profissão ou orientação sexual, quer do homem sobrevivente, quer do abusador ou abusadora.

Há estudos que sugerem que os homens que abusam sexualmente de rapazes identificam-se, na maioria, como heterossexuais, e que na altura em que cometem o abuso estavam numa relação adulta heterossexual.

A orientação sexual do abusador não é vinculativa ou determinante no abuso, e não há indícios de que um homem homossexual seja mais propício a cometer abuso sexual relativamente a um homem heterossexual.

Violência sexual contra homens e rapazes é crime e a responsabilidade é do abusador. O facto de a vítima não conseguir impedir ou de não tentar impedir fisicamente o abuso não o torna num ato consentido. Existe todo um espectro de reações que podem ocorrer e não há respostas que possam ser consideradas corretas ou incorretas.

Por vezes, e dado que esta é uma forma de violência sexualizada, algumas pessoas esperam que as vítimas tentem impedir o abuso ou tentem fugir, porque consideram que essa é a única forma de reagir face a uma situação destas. À luz desta expectativa, se a vítima paralisar perante a agressão poderão gerar-se nela fortes sentimentos de impotência e de culpa. Estes sentimentos poderão contribuir para o seu silêncio e ser parte do motivo para não procurar apoio. É importante relembrar que cada pessoa é única e por isso poderá reagir de uma forma igualmente única.

Paralisar ou não dar sinais de luta são reações normais em situações de violência sexual. No entanto, esta forma de reagir pode ser mal interpretada por algumas pessoas e vista como uma forma de cooperação por parte da criança ou até de consentimento. É importante reforçar que a responsabilidade é sempre do abusador e nunca da vítima, independentemente das circunstâncias do abuso.

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