Lisboa, 26 de novembro de 2025
A Quebrar o Silêncio manifesta o seu mais profundo repúdio perante a notícia de que 11 bombeiros, da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Fundão, são considerados fortemente suspeitos da prática de dois crimes de violação e um crime de coação sexual contra um colega de 19 anos. A associação exige a responsabilização urgente dos implicados.
A violência sexual não é praxe, não é brincadeira e muito menos ritual de integração
Em nome da dignidade humana, é urgente clarificar, sem margem para dúvidas, que a violência sexual não é praxe, não é brincadeira e muito menos ritual de integração. Tratar qualquer ato de coerção ou violação como se fosse “parte de um rito de iniciação” é um ultraje à vítima, uma perversão da noção de camaradagem e um insulto à própria missão de serviço público que se espera de bombeiros.
A nossa indignação aumenta perante o facto de os indivíduos acusados de um ato de tal gravidade poderem continuar a servir numa instituição que deve inspirar confiança e segurança. Nas palavras do comandante da corporação, José Sousa, “neste momento, não há motivo para suspender.”
Submeter alguém a abusos sexuais violentos, num contexto de hierarquia e suposto espírito de camaradagem, é uma violação extrema da confiança e da integridade da pessoa
O abuso sexual constitui uma forma de violência traumática, capaz de deixar marcas duradouras, físicas, psicológicas e sociais, na vida de quem a sofre. Submeter alguém a abusos sexuais violentos, num contexto de hierarquia e suposto espírito de camaradagem, é uma violação extrema da confiança e da integridade da pessoa.
Este episódio compromete a confiança que a sociedade deposita nos bombeiros — figuras que, por vocação e responsabilidade, deviam inspirar segurança, ajuda e solidariedade. Aqueles que deveriam proteger foram acusados de abusar de poder, numa traição chocante do dever que lhes está associado. A imagem coletiva de uma corporação dedicada ao socorro fica profundamente abalada quando emergem denúncias desta gravidade.
A Quebrar o Silêncio exige que a justiça seja feita com todo o rigor possível: que os suspeitos sejam levados a julgamento, que as vítimas recebam apoio especializado e que se desencadeie uma reflexão séria e urgente sobre a cultura interna das corporações de bombeiros, para que nunca mais este tipo de violência seja disfarçado sob pretexto de praxe.
Por fim, reafirmamos o nosso compromisso: continuar a defender as vítimas de violência sexual, denunciar práticas abusivas e contribuir para uma transformação institucional que ponha fim a qualquer forma de impunidade.
A Quebrar o Silêncio apresenta-se igualmente disponível para auxiliar instituições a minimizar práticas danosas e a criar códigos de conduta.