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21 de Abril de 2025

As mulheres também abusam sexualmente? A resposta é: sim

Comecemos pelo fundamental: a violência sexual é uma experiência potencialmente traumática e pode ter um impacto devastador na vida das vítimas. Sabemos que a maioria das vítimas são mulheres e raparigas, mas os homens e rapazes também o são. Por exemplo, em oito anos de atividade, a Quebrar o Silêncio recebeu 830 pedidos de ajuda de homens e rapazes vítimas de abuso sexual.

Também sabemos que a maioria dos abusadores são homens (e homens heterossexuais), mas tal realidade não significa que as mulheres não abusem sexualmente. Mesmo em minoria sabemos que, sim, as mulheres e raparigas abusam de homens e rapazes. Irmãs, primas, mães. Professoras, educadoras, vizinhas. Profissionais de saúde e outras áreas do cuidado.

 

«A minha mãe abusava de mim, fingindo que era cuidado. No duche mexia-me nas partes íntimas. Foi assim desde sempre até eu ter 17 anos.»


Crime invisível

Se o abuso sexual de homens e rapazes é um crime bastante invisibilizado, os que são cometidos por mulheres são-no ainda mais. Tal como muitas pessoas, os próprios homens sobreviventes podem não saber e/ou não acreditar que as mulheres também são capazes de abusar sexualmente. Assim, quando são vítimas por parte de uma mulher, estes homens e rapazes podem crer que se tratou de relações sexuais (mesmo que sejam confusas, dolorosas e traumáticas), e não de crime.

 

«A minha tia cuidava de mim quando os meus pais não podiam e nas brincadeiras pedia-me para me despir e lhe fazer coisas.»

Marcador de género

O marcador de género influencia a forma como os casos de abusos sexuais perpetrados por mulheres são vistos. A visão tradicional e redutora da mulher maternal e cuidadora, contribui para a ideia de que as mulheres não sejam vistas como abusadoras e incapazes de cometer tais crimes. Esta representação errónea exacerba a perceção da dimensão do crime quando uma mulher abusa sexualmente.

Por outro lado, a visão tradicional do homem que está sempre disponível para ter relações sexuais e que é incapaz de dizer “não” aos avanços de uma mulher, contribui para invisibilizar os casos quando um rapaz é vítima de violência sexual por uma mulher. Nestas circunstâncias, o menino ou rapaz vitimado pode ser visto como “sortudo” e não como vítima, e o abuso como uma forma de iniciação sexual e não como uma agressão.

 

«A minha mulher coagia-me a ter relações sexuais com ela quando eu não queria. Dizia-me que eu só podia ser gay ou que tinha um problema no pénis. A única forma de lhe provar que estava errada era tendo sexo com ela.»

 

Outro exemplo desta diferenciação de género está patente na forma como as notícias descrevem este tipo de crime. No contexto escolar, se um professor abusa sexualmente de uma aluna, o docente é adjetivado de abusador, pedófilo, pederasta, molestador ou violador, que “abusou”, “molestou” ou “violou” a vítima. Quando se trata de uma mulher, a abusadora é, frequentemente, referida apenas como professora ou docente, e o abuso é descrito como se fosse um relacionamento entre iguais, sendo comum ler-se “envolveu-se com o aluno”, “teve relações com o jovem”, “mantinha uma relação com aluno”, “fez sexo”. 

O marcador de género é evidente nestes casos, o que desvaloriza o crime no feminino e afasta a dimensão traumática desta forma de violência.

Independentemente de quem abusa, o abuso sexual de homens e rapazes é uma realidade. Acontece nas diferentes fases de vida, desde a infância, passando pela idade adulta, até à senioridade.

Ajudamos homens vítimas de abuso sexual.

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