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14 de Outubro de 2024

“As redes sociais fazem-me sentir pior”

A utilização das redes sociais é, várias vezes, identificada por homens sobreviventes de violência sexual como um hábito disruptivo que promove o mal-estar, a desregulação emocional e o isolamento.

O sobrevivente pode encontrar nas redes sociais uma estratégia de evitamento. Ao ser bombardeado com inúmeros estímulos, pode ajudar a fugir das memórias e pensamentos intrusivos que o assolam. Estes pensamentos negativos podem tornar-se particularmente intensos quando o sobrevivente não está ocupado, pelo que as redes sociais surgem como uma forma rápida e facilmente acessível de se manter distante dos pensamentos e emoções que o perturbam. Em algumas situações este hábito pode ainda funcionar como uma forma de lidar com o tédio, ansiedade, frustração e/ou tristeza. 

Para além disso, estabelecer novas relações através das redes sociais pode tornar-se mais fácil e seguro, uma vez que, exige menor exposição e o sobrevivente pode sentir-se menos vulnerável e com maior controlo. Para alguns sobreviventes de violência sexual, manter alguma forma de controlo do ritmo e do modo como as relações se desenvolvem pode ser essencial para preservar uma sensação de segurança.

Para alguns homens, este hábito pode ocupar várias horas do seu dia e tornar-se nocivo e contribuir para o aumento da ansiedade e de sintomas depressivos, potenciar o isolamento social, aumentar a procrastinação e levá-los a abdicar de outras atividades que seriam mais construtivas e satisfatórias para si. A constante comparação com os outros e as suas vidas — vidas estas, cuja representação pode não corresponder à verdade —, pode reforçar crenças negativas sobre si, tal como, sentimentos de fracasso, defeito e solidão. 

Estas consequências podem estar presentes em qualquer pessoa, independentemente de ter ou não ter sido vítima de violência sexual. No entanto, para alguns homens sobreviventes, pode ser particularmente significativa e impactante, uma vez que, pode intensificar sintomas e crenças disfuncionais muitas vezes já presentes devido à vivência do abuso.

Durante o processo de apoio psicológico, o sobrevivente pode refletir sobre os seus hábitos e rotinas, identificar aqueles que estão a ser danosos para si e ajustar o que sentir necessidade. Paralelamente, ao compreender o que o ajuda a estar equilibrado emocionalmente, pode substituir hábitos nocivos por comportamentos e estratégias funcionais que promovam o seu bem-estar.

Se é sobrevivente de violência sexual e se identifica com este texto contacte-nos através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt, a Quebrar o Silêncio está disponível para o receber.