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6 de Maio de 2025

Aumento preocupante de casos de extorsão sexual contra homens e rapazes

Nos primeiros quatro meses de 2025, a Quebrar o Silêncio registou 14 casos de extorsão sexual de homens e rapazes — um número que representa um aumento drástico face a 2024, ano em que apenas um caso foi identificado.

 

Estes casos envolvem duas situações distintas:

  • homens vítimas de extorsão sexual por parte de desconhecidos,
  • extorsão ocorridas no contexto de relações de intimidade.

O aumento destes casos é abrupto, mas não surpreende

A Quebrar o Silêncio constata que, num padrão recorrente, os homens sobreviventes são abordados por outros homens que, assumindo identidades femininas falsas, iniciam conversas com forte teor sexual. O objetivo é levar as vítimas a partilhar imagens ou vídeos íntimos. Assim que o material é obtido, a dinâmica muda: os agressores revelam a farsa e iniciam uma campanha de intimidação e exigências, pressionando a vítima, num curto espaço de tempo, a ceder às chantagens. Em alguns casos, os abusadores podem chegar a contactar familiares, amigos ou colegas das vítimas, aumentando o pânico e a pressão para pagarem (frequentemente através de vouchers ou cartões-brinde, dificultando o rastreio financeiro).

Foi o que aconteceu a André (nome fictício), 24 anos. «Só passaram duas horas de conversa com ela e já estava a confiar», relata. Julgava estar a conversar com uma rapariga da sua idade. Quando se deu conta, as imagens que enviara estavam nas mãos de um homem na Nigéria, que o ameaçava com uma campanha agressiva de exposição pública caso não obedecesse.

Noutros casos, no contexto de relações íntimas, ex-companheiros ameaçam divulgar (disseminação não consentida) imagens íntimas obtidas durante a relação, como forma de coação para reatar a relação ou por uma sensação distorcida de “retaliação” pela separação.

Nos casos de casais do mesmo sexo, verifica-se ainda o recurso à ameaça de “outing” forçado, ou seja, a exposição pública da orientação sexual da vítima sem o seu consentimento.

No caso de Manuel (nome fictício), de 36 anos. O ex-parceiro partilhou fotos, captadas durante a relação, com colegas de trabalho e em aplicações de encontros, anunciando-as como se fossem um convite para ofertas sexuais disponíveis para quem quisesse. A humilhação de Manuel não foi só privada, mas também foi pública, deliberada e devastadora.

Impacto na vida dos homens vitimados

A Quebrar o Silêncio sublinha que a extorsão sexual pode ter um impacto profundamente devastador na vida das vítimas. Muitos homens relatam uma sensação extrema de falta de controlo (por estarem à mercê dos abusadores), desesperança, vergonha e medo de exposição, uma vez que desconhecem onde e até que ponto as imagens íntimas foram divulgadas (fóruns, redes sociais, grupos de conversa como o WhatsApp). Ignoram se amigos, familiares e colegas terão já visto as suas imagens e vídeos. Esta angústia pode levar a graves consequências para a saúde mental, incluindo pensamentos suicidas e, em alguns casos, pode levar mesmo ao suicídio.

Para a Quebrar o Silêncio, «o aumento dos casos reportados é um reflexo do trabalho e do esforço da Quebrar o Silêncio em dar visibilidade às múltiplas expressões da violência sexual contra homens. Quando falamos sobre outras formas de abuso sexual — como a violação em contexto de chemsex, ser forçado a penetrar ou o stalking de homens —, mais homens encontram palavras para o que viveram, e isso dá-lhes coragem para procurar ajuda.»

Em caso de extorsão, saiba o que fazer


Não ceda à chantagem

  • Não envie dinheiro nem imagens ou vídeos.
  • Ceder pode encorajar o criminoso a continuar.

 

Guarde todas as provas

  • Faça capturas de ecrã das mensagens, perfis e transações (se aplicável).
  • Guarde links e e-mails.


Interrompa o contacto

  • Não tente negociar ou dialogar.
  • Bloqueie a pessoa em todas as plataformas.


Denuncie o crime 

  • Denuncie à Polícia Judiciária através do portal da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3T) ou presencialmente.
  • Pondere contactar associações de apoio como a Quebrar o Silêncio ou a Associação Não Partilhes.
  • Se a chantagem ocorreu nas redes sociais, denuncie a conta aos administradores da plataforma.

 

Contacte a Quebrar o Silêncio


Se for alvo deste tipo de situação pode contar com o nosso apoio. Partilhar o caso com familiares e amigos pode ajudar. No entanto, por vezes a partilha pode resultar (mesmo sem intenção) na culpabilização da própria vítima que, por sua vez, pode ouvir juízos de valor e não receber o merecido apoio das pessoas com quem desabafou. 

Contactar primeiramente uma entidade de apoio à vítima como a Quebrar o Silêncio pode ajudar a ganhar alguma perspetiva sobre o assunto. Este pode ser o primeiro passo para aceder a um apoio psicológico especializado que o ajude a lidar com as consequências, e se desejar, que o oriente e encaminhe para outras formas de apoio, designadamente, judicial. Denunciar o crime é um direito da vítima se desejar.

Os homens e rapazes são, cada vez mais, vítimas de extorsão sexual. Esta é uma forma de violência sexual, praticada principalmente nos espaços online e em ambientes digitais, e que tem aumentado nos últimos anos. No entanto, esta é uma realidade pouco falada. Muitos dos sobreviventes sofrem em silêncio e tentam resolver sozinhos as consequências.

Se foi vítima de extorsão sexual ou de algum crime deste tipo, nós podemos ajudá-lo.

Os nossos serviços de apoio são gratuitos e confidenciais.

Contactos:
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt