Nos primeiros quatro meses de 2025, a Quebrar o Silêncio registou 14 casos de extorsão sexual de homens e rapazes — um número que representa um aumento drástico face a 2024, ano em que apenas um caso foi identificado.
Estes casos envolvem duas situações distintas:
- homens vítimas de extorsão sexual por parte de desconhecidos,
- extorsão ocorridas no contexto de relações de intimidade.
O aumento destes casos é abrupto, mas não surpreende
Foi o que aconteceu a André (nome fictício), 24 anos. «Só passaram duas horas de conversa com ela e já estava a confiar», relata. Julgava estar a conversar com uma rapariga da sua idade. Quando se deu conta, as imagens que enviara estavam nas mãos de um homem na Nigéria, que o ameaçava com uma campanha agressiva de exposição pública caso não obedecesse.
Nos casos de casais do mesmo sexo, verifica-se ainda o recurso à ameaça de “outing” forçado, ou seja, a exposição pública da orientação sexual da vítima sem o seu consentimento.
No caso de Manuel (nome fictício), de 36 anos. O ex-parceiro partilhou fotos, captadas durante a relação, com colegas de trabalho e em aplicações de encontros, anunciando-as como se fossem um convite para ofertas sexuais disponíveis para quem quisesse. A humilhação de Manuel não foi só privada, mas também foi pública, deliberada e devastadora.
Impacto na vida dos homens vitimados
A Quebrar o Silêncio sublinha que a extorsão sexual pode ter um impacto profundamente devastador na vida das vítimas. Muitos homens relatam uma sensação extrema de falta de controlo (por estarem à mercê dos abusadores), desesperança, vergonha e medo de exposição, uma vez que desconhecem onde e até que ponto as imagens íntimas foram divulgadas (fóruns, redes sociais, grupos de conversa como o WhatsApp). Ignoram se amigos, familiares e colegas terão já visto as suas imagens e vídeos. Esta angústia pode levar a graves consequências para a saúde mental, incluindo pensamentos suicidas e, em alguns casos, pode levar mesmo ao suicídio.
Para a Quebrar o Silêncio, «o aumento dos casos reportados é um reflexo do trabalho e do esforço da Quebrar o Silêncio em dar visibilidade às múltiplas expressões da violência sexual contra homens. Quando falamos sobre outras formas de abuso sexual — como a violação em contexto de chemsex, ser forçado a penetrar ou o stalking de homens —, mais homens encontram palavras para o que viveram, e isso dá-lhes coragem para procurar ajuda.»
Em caso de extorsão, saiba o que fazer
Não ceda à chantagem
- Não envie dinheiro nem imagens ou vídeos.
- Ceder pode encorajar o criminoso a continuar.
Guarde todas as provas
- Faça capturas de ecrã das mensagens, perfis e transações (se aplicável).
- Guarde links e e-mails.
Interrompa o contacto
- Não tente negociar ou dialogar.
- Bloqueie a pessoa em todas as plataformas.
Denuncie o crime
- Denuncie à Polícia Judiciária através do portal da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3T) ou presencialmente.
- Pondere contactar associações de apoio como a Quebrar o Silêncio ou a Associação Não Partilhes.
- Se a chantagem ocorreu nas redes sociais, denuncie a conta aos administradores da plataforma.
Se for alvo deste tipo de situação pode contar com o nosso apoio. Partilhar o caso com familiares e amigos pode ajudar. No entanto, por vezes a partilha pode resultar (mesmo sem intenção) na culpabilização da própria vítima que, por sua vez, pode ouvir juízos de valor e não receber o merecido apoio das pessoas com quem desabafou.
Contactar primeiramente uma entidade de apoio à vítima como a Quebrar o Silêncio pode ajudar a ganhar alguma perspetiva sobre o assunto. Este pode ser o primeiro passo para aceder a um apoio psicológico especializado que o ajude a lidar com as consequências, e se desejar, que o oriente e encaminhe para outras formas de apoio, designadamente, judicial. Denunciar o crime é um direito da vítima se desejar.
Os homens e rapazes são, cada vez mais, vítimas de extorsão sexual. Esta é uma forma de violência sexual, praticada principalmente nos espaços online e em ambientes digitais, e que tem aumentado nos últimos anos. No entanto, esta é uma realidade pouco falada. Muitos dos sobreviventes sofrem em silêncio e tentam resolver sozinhos as consequências.
Os nossos serviços de apoio são gratuitos e confidenciais.
Contactos:
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