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23 de Junho de 2025

Como receber uma partilha de abuso de um homem sobrevivente?

A partilha de uma história de abuso sexual não é fácil para quem a faz, e os homens vítimas de abuso sexual enfrentam uma série de pressões acrescidas que os mantém no silêncio. Receiam que ao falar do abuso sejam vistos como frágeis, menos homens e menos capazes. Por isso, quando ganham coragem para partilhar, fazem-no com uma carga emocional enorme e com uma confiança frágil nas mãos de quem escuta. A verdade é que uma partilha desta natureza é um risco para o sobrevivente, pois não sabe como a outra pessoa irá reagir, e por isso é também um enorme ato de coragem.

A forma como respondemos pode fazer toda a diferença para quem quebra o silêncio.

Se a reação for empática, calorosa e livre de juízos de valor, aumenta a probabilidade de o sobrevivente procurar ajuda e receber o acompanhamento de que precisa para lidar com o impacto do trauma. Por outro lado, uma resposta crítica, desinformada e que descredibiliza o sobrevivente pode levá‑lo a fechar‑se, a não procurar mais ajuda e a continuar a viver isolado com a dor e a vergonha que carrega.


O que dizer?

  • «Obrigado por confiares em mim.» Porque esta confiança não é fácil de construir e merece ser reconhecida.

  • «Acredito em ti.» Porque muitos sobreviventes têm dificuldades em reconhecer ou nomear o que viveram e precisam de escutar que não estão sozinhos.

  • «Lamento muito o que te aconteceu.» Porque reconhecer a dor ajuda a aliviar o peso do silêncio.

  • «A culpa não foi tua.» Porque esta é uma das crenças mais comuns entre quem foi vítima de abuso, e é crucial contradizê‑la desde o primeiro momento.

  • «Estou aqui para te apoiar e ajudar no que precisares.» Porque dá uma mensagem clara de disponibilidade e compromisso.

  • «É natural / normal o que sentes e pensas.» Porque não existem respostas “certas” ou “erradas” para uma experiência tão complexa e pessoal.

  • «Como te posso ajudar?» Porque dá espaço, tempo e controlo à vítima para decidir, contrariamente ao «Deves denunciar» ou «Tens de ir à polícia», mesmo que bem intencionado, «tens» e «deves» são imposições de quem escuta.


O que evitar dizer?

  • «Como é que alguém te pôde fazer isso?» Porque intensifica o choque, aumenta sentimentos de impotência e não ajuda quem tenta abrir‑se.

  • «Por que não disseste antes?» Porque dá a entender que a vítima tem culpa por não ter falado mais cedo.

  • «Eu percebo exatamente o que estás a passar.» Porque cada experiência é única e não pode ser reduzida à compreensão pessoal de quem escuta.

  • «Podia ter sido pior. Tiveste sorte de não ser mais grave.» Porque não legitima a dor atual e desvaloriza o impacto do abuso e do trauma.

  • «Devias ter tentado evitar ou fugir.» Porque aumenta a vergonha e a autoculpabilização da vítima.

  • «Não deixes que isso te afete tanto.» Porque não existe uma receita para superar uma experiência tão dolorosa e desvaloriza o que o sobrevivente está a sentir.

  • «Quem foi? Conta como é que aconteceu.» Porque não cabe a quem escuta exigir detalhes ou forçar uma partilha mais exaustiva.

 

Por que razão esta escuta é tão importante?

A escuta empática pode abrir uma porta para a recuperação. Os homens vítimas de abuso sexual não são menos merecedores de compreensão. Não são menos vulneráveis, não são menos humanos. O silêncio que carregam do abuso, pode ser intensificado quando percebem que não têm quem os escute e com quem possam falar sem serem julgados, desvalorizados ou descredibilizados.

Por isso, quando um homem escolhe partilhar uma história tão íntima e tão dolorosa, quem escuta recebe mais do que uma confidência. Receber uma prova de confiança é também uma oportunidade para ajudar a que o sobrevivente possa começar a sua recuperação do trauma.

Se conhecer alguém nesta situação, não ignore, não desvalorize e não julgue. Ouça, acredite e encaminhe para quem pode ajudar.

A Quebrar o Silêncio existe para isso: para oferecer escuta e apoio especializado e qualificado. Para acompanhar e para garantir que nenhum homem sobreviva sozinho a uma experiência tão devastadora.

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