Em relação ao caso da Escola do Vimioso, a Quebrar o Silêncio alerta para o perigo de casos de violência sexual contra meninos e rapazes serem camuflados como brincadeiras, não sendo assim reconhecidos como crime e situações potencialmente traumáticas para a vítima. Mesmo na ausência de atos penetrativos comprovados, a situação pode levar a vítima a sentir que o seu corpo foi desrespeitado, a sua segurança comprometida e sentir uma profunda sensação de risco. É importante clarificar que esta situação, apelidada pelos autores como um “exame à próstata”, pode ser profundamente traumática para a vítima, com graves repercussões no seu desenvolvimento e futuro, podendo afetar a forma como gere relacionamentos sociais e íntimos, bem como relações de confiança.
«Tenha havido ou não sodomização, este caso não pode ser ignorado como aquilo que é: violência sexual contra rapazes, nem podemos menosprezar a gravidade dos atos. Sabemos que muitas vezes estas situações são desvalorizadas e minimizadas por serem “brincadeiras de rapazes”, mas não podemos aceitar a renomeação de crime e experiências potencialmente traumáticas. As brincadeiras não devem magoar, não devem ferir e não devem, em algum momento, assemelharem-se a comportamentos de violência sexual. Nestas circunstâncias, o foco deve ser sempre o bem-estar do menino vitimado», refere Ângelo Fernandes, diretor técnico da associação Quebrar o Silêncio.
A escola deve ser um espaço seguro para todas as crianças, e os casos da Escola de Vimioso e da Escola Profissional de Vila Nova de Famalicão são apenas dois exemplos de como a violência sexual contra homens e rapazes nem sempre recebe a devida atenção, não é identificada como abuso sexual e é desvalorizada pelos agentes protetores. Em muitos casos, os crimes sexuais contra homens e rapazes são motivo de troça, sendo fundamental que recebam o mesmo tratamento que outros casos, independentemente do sexo da vítima. Neste sentido, a Quebrar o Silêncio congratula o ministro da Educação, Fernando Alexandre, por qualificar o caso como “um caso de violência gravíssimo” que “terá de ter consequências”.
A Quebrar o Silêncio lançou em novembro de 2023 o guia para a prevenção do abuso sexual de crianças, um manual destinado a todos os profissionais que lidam com crianças, como docentes, pediatras e assistentes operacionais, entre outros. O documento é gratuito e pode ser acedido em https://www.quebrarosilencio.pt/recursos.