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17 de Março de 2025

Fui abusado sexualmente pelo meu pai.

Quando falamos de abuso sexual de homens, a maioria dos crimes é cometida por pessoas próximas, nomeadamente familiares. Muitas vezes, o abusador é o próprio pai.

Vários homens que procuram a ajuda da Quebrar o Silêncio referem viver uma relação ambígua com o progenitor. Se, por um lado, este deveria ter sido o cuidador e protetor, por outro, foi quem infligiu atos de violência sexual, resultando numa experiência traumática.

Neste sentido, para um menino, um rapaz ou um homem que foi abusado sexualmente pelo progenitor, o Dia do Pai pode ser uma efeméride dolorosa. Por todo o lado surgem anúncios a celebrar esta data e sugestões de presentes acompanhadas de frases de apreço para com o pai. Para estes sobreviventes, as semanas que antecedem 19 de março podem ser extremamente complicadas e dolorosas.

A maioria dos meninos só partilha a sua história de abuso décadas mais tarde e, por isso, as pessoas mais próximas, amigos e familiares, podem desconhecer o que lhes aconteceu. Assim, muitos sobreviventes vivem a angústia do Dia do Pai em segredo e sentem a necessidade de se mostrarem recetivos à data, sentindo-se obrigados a celebrá-la e a felicitar o progenitor, quando interiormente podem estar a passar por um turbilhão de sentimentos contraditórios.

 

Testemunho de João

João, um dos homens que procurou ajuda na Quebrar o Silêncio, partilha: «Fui abusado pelo meu pai quando tinha entre 4 e 6 anos de idade. Depois de tentar suicidar-me, 24 anos mais tarde, decidi que precisava de procurar a ajuda que, desde sempre, senti que não merecia.»  

Neste caso em concreto, João indica ainda que: «houve muita manipulação e sedução inteligente no meu abuso. Era apenas um jogo que o meu pai tinha comigo e tudo parecia uma brincadeira ou uma demonstração de afeto. Não era a história de um estranho que me violentou de forma agressiva na rua. Era tudo feito em casa, em segredo, no meu quarto. Era tudo muito confuso e, por isso, senti que não merecia ajuda.»  

Os meninos e rapazes podem crescer com uma noção pouco clara sobre o que é afeto ou demonstrações de carinho por parte de outras pessoas, em particular de homens. Podem não saber como reagir, pois receiam que o afeto e a atenção sejam sinónimos de abuso ou outra face deste. Assim, é comum que muitos sobreviventes passem a evitar o contacto com outras pessoas ou a desenvolver relações superficiais e com pouca profundidade, como estratégia de sobrevivência. Estas são apenas algumas das consequências.

 

Dia do pai

É compreensível que, para estes sobreviventes, o dia 19 de março seja um momento que os relembra do abuso que sofreram. Estes homens não tiveram um pai que os protegeu, que cuidou deles e que, por isso, mereça ser celebrado. Pelo contrário, os pais destes homens foram quem, desde muito cedo, abusou sexualmente dos próprios filhos e, em muitos casos, durante vários anos.  

Os sobreviventes podem ter ultrapassado o impacto traumático do abuso, mas, muitas vezes, a família não tem conhecimento do que aconteceu. Assim, para preservar a harmonia familiar e também porque receiam que ninguém acredite na sua história, estes homens mantêm uma relação com o pai. Pode ser meramente cordial, mas não deixa de ser um contacto regular com o abusador.  

 

Ajudamos homens vítimas de abuso sexual.

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