É comum os sobreviventes de violência sexual terem perturbações no sono, como dificuldade em adormecer ou se manter a dormir, insónias, sono agitado, pesadelos ou ausência de um sono reparador. Estas dificuldades influenciam o bem-estar do sobrevivente, e interferem com a capacidade de regular emoções, de integrar os acontecimentos e as experiências que vai vivenciando. A longo prazo, têm um forte impacto na saúde física, mental e emocional, e podem gerar consequências negativas nos vários contextos da sua vida.
Porque surgem problemas de sono em sobreviventes de violência sexual?
- Sobreviventes de violência sexual podem ser invadidos recorrentemente por memórias e pensamentos intrusivos, os quais tentam evitar durante o dia, ocupando-se com trabalho ou tarefas. Quando chega a hora de descanso e estes distratores diminuem, é comum o sobrevivente sentir que “não tem como fugir” e estes pensamentos e memórias se intensifiquem.
- Muitos sobreviventes de violência sexual sofrem de hipervigilância e mantêm um constante estado de alerta, o que dificulta a capacidade de relaxar e descansar. O sobrevivente pode sentir que é difícil “baixar a guarda”, pois a qualquer momento algo perigoso ou ameaçador pode acontecer, sendo comum acordar ou assustar-se frequentemente com ruídos à sua volta.
- Em algumas situações, os abusos ocorriam à noite ou antes de dormir, pelo que este momento pode ser particularmente ativador para o sobrevivente.
- O sobrevivente pode evitar ir dormir e fazê-lo apenas por exaustão porque durante o sono tem frequentemente pesadelos que o levam novamente para o abuso sofrido e o fazem sentir que não é seguro descansar.
- Para muitos sobreviventes, o silêncio e o escuro podem ser profundamente perturbadores, causar ansiedade e estado de alerta. Numa tentativa de se sentirem mais seguros, é comum que alguns sobreviventes procurem rodear-se de estímulos, como por exemplo, recorrer ao telemóvel, computador e/ou televisão. Isto não só desregula o ciclo de sono, uma vez que, dificulta o adormecer, como também, perturba a qualidade do mesmo.
Quando os problemas de sono se prolongam, por vezes durante muitos anos, alguns sobreviventes podem encontrar na automedicação ou no consumo de substâncias um facilitador, algo que os ajuda a relaxar e a conseguir dormir. A longo prazo, esta estratégia pode gerar outras dificuldades, não só pelo risco de criar uma dependência, como também, por poder impedir que o sobrevivente lide com a origem desses problemas e estes se agravem.
Com o decorrer do apoio psicológico, o sobrevivente tem a oportunidade de identificar estas dificuldades e, de acordo com as suas necessidades, desenvolver estratégias para as ultrapassar. Estas podem passar pelo ajuste de hábitos e rotinas de sono, pela reorganização do seu espaço de descanso para promover um ambiente seguro e de conforto, pela prática de exercícios de respiração e relaxamento muscular, entre outras estratégias.
Lidar com as consequências do abuso e com as emoções associadas ao mesmo, ajudará o sobrevivente a sentir-se mais estável e, assim, ser mais fácil conseguir descansar. Do mesmo modo, ao melhorar a qualidade do sono, o sobrevivente sentir-se-á mais regulado física, mental e emocionalmente, e mais disponível e capaz para lidar com os desafios e dificuldades atuais.
Se tem problemas de sono e se identifica estas dificuldades na sua vida, contacte-nos. A Quebrar o Silêncio está disponível para recebê-lo através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt.