O verão é muitas vezes retratado como uma estação leve e despreocupada. Férias, calor, encontros, descanso. Mas para muitos homens sobreviventes de violência sexual, esta época do ano pode ser particularmente difícil. A exposição corporal, os reencontros familiares ou simplesmente o tempo livre podem ativar memórias dolorosas, reacender sensações de vulnerabilidade e aumentar o sofrimento.
Um dos aspetos mais sensíveis prende-se com a exposição física. O verão convida a corpos mais descobertos, a momentos de praia ou piscina, a espaços públicos onde o calor favorece o despir-se. Para alguns homens, estes ambientes podem funcionar como um desencadeador de memórias traumáticas. O seu próprio corpo, mas também o corpo dos outros, pode evocar sensações de invasão, vergonha ou desconforto. Não se trata de pudor ou insegurança estética — o que em alguns casos pode, de facto, acontecer —, mas da forma como o corpo se lembra, por vezes, sem aviso, do que foi vivido sem consentimento.
O tempo livre é outro fator que pode dificultar o bem-estar. A quebra da rotina laboral ou escolar pode aumentar os pensamentos intrusivos, a angústia e a sensação de desconexão. A ausência de ocupação e o silêncio exterior podem amplificar o «ruído» interior. Para quem lida com um trauma de abuso sexual, o verão nem sempre é sinónimo de descanso — pode ser uma época emocionalmente exigente.
A pressão social para «estar bem» — sorrir, relaxar, aproveitar — contribui também para o isolamento de quem não é capaz ou não sente essa disponibilidade. Perguntas como «Porque é que não consigo aproveitar como os outros?» surgem com frequência e geram sentimentos de inadequação, culpa ou fracasso.
Em alguns casos, esta fase do ano pode estar associada ao aumento de comportamentos de risco, como relações sexuais impulsivas, consumo compulsivo de pornografia ou outras formas de adição, numa tentativa de lidar com o mal-estar.
Por fim, os encontros familiares ou visitas a locais marcados pelo passado podem ser altamente desafiadores. Regressar à terra natal, rever familiares ou estar em ambientes ligados à violência sofrida pode reativar feridas que, por vezes, pareciam já saradas.
Na Quebrar o Silêncio, reconhecemos que a experiência do verão não é igual para todos. Criámos um espaço seguro e de apoio onde cada homem pode compreender os desencadeadores, desenvolver estratégias de autocuidado e encontrar a segurança necessária.
Ajudamos homens vítimas de abuso sexual.
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