Com o início do calendário escolar 2024/2025, a Quebrar o Silêncio alerta para o facto de que a violência sexual no contexto do ensino superior ocorre principalmente nos primeiros quatro meses do ano letivo. De acordo com o estudo americano Campus Sexual Assault Study e a entidade RAINN, mais de 50% dos casos de abuso sexual em universidades e institutos politécnicos acontecem entre agosto e dezembro.
No início do ano letivo, a pressão social para criar novos laços e amizades pode colocar alguns jovens, especialmente os caloiros, em situações de vulnerabilidade. Rituais de integração, como a receção dos caloiros, festas de boas-vindas e praxes — onde as relações assimétricas e abuso de poder podem ser particularmente sentidas — são alguns dos contextos onde a violência sexual pode ocorrer. A Quebrar o Silêncio relembra que, ao contrário do mito do “desconhecido que viola”, na maioria dos casos o abusador é conhecido da vítima e estabelece uma relação de confiança com ela.
Praxes que visam a submissão e o poder sobre o outro
A Quebrar o Silêncio alerta para as praxes, onde são conhecidos casos em que caloiros e caloiras são levados a simular atos sexuais entre si ou a expor a genitália masculina como parte de “rituais de iniciação”, entre outras práticas sexualizadas. Estes comportamentos muitas vezes inviabilizam o exercício pleno do consentimento, uma vez que os caloiros sentem a pressão e se sentem pressionados a integrar-se, existindo uma cultura que promove a hierarquização das relações e reforça a assimetria e o abuso de poder por parte de quem realiza as praxes.
A ideia de que “é só uma brincadeira” e que “para o ano é a tua vez de fazeres o mesmo” alimenta um ciclo de repetição destes atos, diluindo a perceção da violência, especialmente quando casos de abuso sexual são apresentados como inofensivos ou meras brincadeiras. O facto de estas situações acontecerem na presença de outros pode levar a vítima a desvalorizar os comportamentos abusivos, e a pressão para não ser quem “estraga a festa” pode também contribuir para que as vítimas permaneçam em silêncio.
Alguns dados relevantes:
O Report on the AAU Campus Climate Survey on Sexual Assault and Sexual Misconduct de 2020 indica que 13% de todos os estudantes são vítimas de violação ou abuso sexual através de força física, violência ou incapacitação. Entre os estudantes de pós-graduação e profissionais do ensino superior, 9,7% das mulheres e 2,5% dos homens são vítimas de violação ou abuso sexual por meios semelhantes.
De acordo com o relatório do Department of Justice, Office of Justice Programs, Bureau of Justice Statistics, intitulado Rape and Sexual Victimization Among College-Aged Females, os estudantes universitários do sexo masculino, com idades entre os 18 e 24 anos, têm 78% mais probabilidades de serem vítimas de violência sexual do que os não estudantes da mesma faixa etária.
A maioria das vítimas não denuncia o crime, nem procura apoio, o que agrava a invisibilidade do problema e dificulta o acesso aos serviços de apoio à vítima.
Plano de segurança
Se é estudante do ensino superior, pondere criar um plano de segurança:
- Partilhe com alguém da sua confiança os eventos em que vai participar, a localização e com quem vai. Se houver alterações de planos, informe essa pessoa. Criar um grupo de conversa com pessoas de confiança (ex: no WhatsApp) pode ajudar a manter essas informações atualizadas.
- Se algum avanço ou linguagem corporal o incomodar, não o desvalorize. Assegure-se de que se sente confortável e seguro. Confie no seu instinto – se algo lhe parece errado, é porque provavelmente está. Não subestime a importância da sua intuição.
- Se notar que um colega ou uma colega parece desconfortável, pergunte-lhe se está tudo bem e se precisa de sair do evento.
Relembramos que a culpa e responsabilidade da violência sexual é sempre de quem abusa, nunca da vítima.
Peça ajuda
Se foi vítima de violência sexual ou passou por alguma situação que não compreende bem, contacte a Quebrar o Silêncio.
O apoio é confidencial e gratuito.
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt